terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Odisséia da Velha Clorofila Boa de Guerra. Versão escrita.

A Odisséia da Velha Clorofila Boa de Guerra.
Carlos Gondim, 2006. (Texto incompleto).

Dizer que foi amor à primeira vista é pouco, muito pouco... Afirmar que o seu encontro foi um mero acaso é simplificar o caso. A relação da "Clorofila" com o Gondim vai muito além disso. Parece até que um estava esperando pelo outro... Em alguma esquina deste mundo de Nosso Senhor...
Foi no século passado! No ano de 1986! O Gondim, um sisudo senhor então de 35 anos, tinha decidido praticar a profissão que se formara a mais de uma década atrás: engenheiro agrônomo! Até aquele ano ganhava a vida sendo professor de uma faculdade federal. Como chegara a triste constatação que como professor o que mais ganhava eram cumprimentos e mais cumprimentos de ex-alunos e especialmente de ex-alunas.Porém, seu automóvel continuava a ser uma velha Belina II. Incentivado pelo seu velho pai, resolveu ser engenheiro agrônomo de verdade e partiu para o campo. Fez sociedade com seu irmão (que não era professor) e com seu pai, um velho nordestino que soube tirar proveito das agruras do ambiente árido e das lições da intensa vida que teve. Compraram um pequeno sítio à cerca de 90 km de Belém, abriram uma microempresa agropecuária e começaram a investir na propriedade. O Gondim foi ser o Diretor-Técnico, é claro, e o seu irmão e o seu pai os diretores financeiro e presidente, respectivamente. Começou a meter a mão na massa, isto é, os pés na terra e a cabeça no sol... Todos os fins de semana logo depois de encerrar o expediente na faculdade, lá ia ele pela estrada rumo ao Sítio Atumã. O mesmo acontecia nos feriados, dias santos e até nas licenças prêmios que tirara. Ele estava disposto mesmo a tirar da terra o sustento seu e de sua família e mais o pro labore. Até ai ele usava a velha Belina II que empanturrava de sacas e mais sacas de ração animal para as criações que iam de vento em popa. Durou pouco. Menos de um ano depois a velha caminhonete entregou os pontos. Não suportou os buracos da estrada nem o peso da carga que o Gondim teimosamente fazia ela carregar. Foi aí que a Clorofila, ou melhor, aquela que seria batizada mais adiante de Clorofila, apareceu na vida do Gondim. Uma caminhonete Toyota Bandeirantes, 1980, com taipá de madeira. Estimulado pelo Diretor-Presidente o Gondim foi conferir o veículo que deveria substituir a velha caminhonete Belina II. Assim, ficou sabendo que a mesma estava com a caixa de marcha danificada e só chegava à terceira marcha. Que sua missão até então era rebocar os ônibus de uma empresa de transportes urbanos de Belém quando pregassem na cidade ou socorrê-los quando um de seus pneus furasse. Pelo preço e pelos honestos rasgados elogios de um velho mecânico, ele topou e recomendou a sua compra aos demais sócios. Na primeira semana com o seu novo dono ela foi para o estaleiro, ou melhor, para a oficina de lanternagem, mecânica e pintura. Fazer a mecânica e cuidar da fachada. Novo taipá zerinho e nova pintura recebeu. Investindo no futuro e até como uma assustadora premonição tomou um banho de tinta para navio, por baixo pro cima, por dentro e por fora. Enfim, ficou de novo verdinha em folha. E aí... nasceu a Clorofila. O pigmento vegetal que ajuda a transformar a molécula dágua e mais o gás carbônico em alimento serviu de inspiração para a escolha de seu nome. A bem da verdade, é bom que se registre que este nome diz unicamente respeito à sua cor, pois, como o Gondim bem sabia, o combustível que a Clorofila usa, o diesel não tem quase nada de ecológico... Pois bem, assim nasceu a Clorofila.
Dois anos depois e muitos quilômetros adiante o sonho do Gondim acabou. Ele demonstrou a contra gosto aquela velha máxima: Todo sitiante tem duas alegrias: No dia em que compra o sitio e no dia que consegue vendê-lo!
Na repartição dos bens da firma que foi extinta o Gondim deliberadamente optou em ficar com a Clorofila. Neste mesmo período a vida do Gondim tinha mudado bastante. Ele próprio resolveu mudar. Seu casamento foi pro beleléu, mudou seu estilo de vida, suas roupas e seu modo de falar e encarar a vida. Agora com 39 anos, tava vivendo como se tivesse 19! Seu filho mais velho, de 14 anos confirmava isso quando dizia: Papai, gosto mais do senhor agora do que antes... No trabalho inaugurou uma nova rotina. Deixar o carro do lado oposto do prédio onde ficava o seu escritório e caminhar pelos imensos corredores que separava os dois. Nesse percurso diário passou a cumprimentar todos e todas que encontrava pelo caminho. Colegas professores, alunos e funcionários. E qual era o carro que usava? – A Clorofila!
Foi assim que conheceu sua nova companheira. E foi vivendo assim que a Clorofila tornou-se peça indispensável na nova vida do Gondim.
Por insistência de sua companheira foi fundado um grupo chamado hoje de Novos Curupiras. O ano era 1990. De lá até os dias atuais a Clorofila participou dos momentos mais incríveis do Gondim e da ONG Novos Curupiras. Depois de mais de 10 anos transportando pessoas e coisas em Belém e cercanias, abrindo a festa das Mocréas na faculdade, ou desbravando as praias do Crispim em Marapanim ou do Caripi em Barcarena, ambas no Pará, a Clorofila recebeu a sua mais arrojada missão: Transportar os estagiários voluntários da ONG até Soure, no arquipélago do Marajó. Eram viagens semanais. Tralhas e gente sobre o taipá e o Gondim mais um passageiro na cabine rumo à vila de Icoaraci e de lá embarcar em uma balsa que os deixava, três horas depois na ilha do Marajó. Mais um trecho rodoviário de vinte e poucos quilômetros e mais uma travessia de balsa até chegar em Soure, mais exatamente na comunidade de Tucumanduba, a três quilômetros do centro da cidade.
Em Soure, pintou e bordou. Envergando uma enorme bandeira branca com a logo do grupo ecológico colocada na extremidade do taipá, lá ia a Clorofila pelas ruas e travessas da “capital do Marajó”. Carregando gente e carga e cheia da alegria e energia dos jovens estagiários e estagiárias do aloprado professor. Semanalmente e durante quase um ano inteiro o Gondim atravessava a baía do Marajó em direção à Soure, mais exatamente para Tucumanduba. A missão naquele ano era capacitar jovens locais e sistemas agroflorestais e em beneficiamento de produtos do mangue. Gondim decidiu fazer a sinalização do itinerário para chegar até a recém criada Base Física da ONG Novos Curupiras em Tucumanduba. Pediu a ajuda dos estagiários. O motorista era o Raimundinho, moleque recém saído da menor idade que pilotava a Clorofila. Foram até o ponto inicial da rota, a rampa das balsas que embarcam e desembarcam pessoas e veículos em Soure. Como que prenunciando a tragédia, prestes a acontecer, Gondim orientou para que o Raimundinho estacionasse a Clorofila de marcha á ré, na direção da balsa, que estava atracada. Ele, com os seus botões, premoliou: se a marcha que funciona como freio de mão destravar e a Clorofila começar a descer rampa abaixo, não mergulhará nas profundas águas do rio Paracauarí, o corpo da balsa impedirá. Mas, não deu outra, na hora de ir embora, o motor não pegou. Raimundinho desceu da boléia, abriu o capô do motor, pediu pra bater o chave e nada. A Clorofila não queria conversa. Raimundinho diagnosticou pouco combustível no tanque. Sugeriu que todos chacoalhassem a Clorofila. Todos desceram, só ficou uma estagiária no assento do passageiro. Primeira chacoalhada e nada. Segunda chacoalhada e a premonição do Gondim se realizou. O balanço feito desengatou a alavanca da marcha que servia de freio e a Clorofila começou a se mover em direção do rio. Foi nessa hora que o Gondim deu por conta que a Clorofila não ficara estacionada na direção da balsa, mas ao lado desta. Mergulho iminente! -- Pisa no freio! Falou quase desesperado para a estagiária que se mantinha inabalável dentro da Clorofila. – Que freio? Respondeu ela, perguntando.
Texto incompleto.

A Odisséia da Clorofila Velha de Guerra.

Estas imagens refletem um pouco da vida da Clorofila nesses últimos dezesseis anos! Um pouco, pois muitas outras ações só estão registradas nas mentes das crianças, jovens e adultos que em algum momento de suas vidas embarcaram nos sonhos e utopias da "Clorofila Velha de Guerra".
1994:
1995:
1998:





1999:

2000:

2001

2002:










2003:


2004:
2005:

2006:







2011: